segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Bara, o Sujo

Sangue e merda, esse é o cheiro de uma matança, não entendo como vocês aguentam, eu sou um goblin minha vida inteira fede, desde a nossa criação somos criaturas nojentas, mas vocês são requintados compram perfumes, roupas e outras frescuras, mas no fim das contas, na morte, vocês fedem assim como eu.

Você já ouviu como nós acreditamos que a vida foi criada? No inicio só existia uma grande imensidão de porra nenhuma e o Deus Goblin, e ele formou o planeta como conhecemos, ele se masturbava e criava grandes mares, rios e oceanos, suas fezes criavam montanhas e seu catarro deixava os campos verdes. Um dia o Deus Goblin se sentiu sozinho e criou para si uma parceira, uma grande e gorda vaca, está surpreso? Não existem goblins fêmeas, nós nos reproduzimos com qualquer fêmea de outra espécie, então além dos ocasionais filhos de estupros, nós somos em grande maioria filhos da bestialidade. Mas como eu dizia um dia o Deus Goblin criou uma vaca e por eras ele a comeu até que ela ficou tão inchada de porra de goblin que explodiu e dela saíram todas as formas de vida, entre elas os primeiros goblins, e pelo que dizem as lendas os deuses de todas as outras raças também, então por lógica os primeiros  da nossa especie são tão especiais como qualquer deusinho de merda que você vê as pessoas adorando por aí, mas apesar disso eles não são adorados como deuses afinal só existe um deus o Deus Goblin e ele após foder por eras foi dormir, porque isso é o que se deve fazer após uma boa trepada. Por isso que goblins não fazem cultos ou orações para o Deus Goblin, porque ele esta dormindo, não vai ouvir mesmo, o máximo que isso faria é incomodar o cochilo dele. E é isso que nós somos, uma piada ruim, uma piada sobre um goblin que gozava rios e cagava montanhas e um dia fodeu uma vaca e depois foi dormir.

Você deve estar se perguntando como eu vim parar aqui, afinal ver um goblin solitário com dentes de cobre montado em um javali selvagem não é algo que se vê todos os dias. Eu era um escravo, eu lembro pouco da vida antes de ser escravo, não me lembro de qual família eu era aonde eu vivia ou nada assim, apesar disso lembro do meu nascimento, você deve achar isso estranho mas isso é porque vocês nascem bebês. Goblins nascem goblins. Você sai da vagina da sua mãe e a devora como sua primeira refeição, eu nasci de uma grande égua, ela devia ser enorme, porque eu devo ter herdado seu tamanho, afinal com meus 1,30m de altura sou considerado um gigante entre meus irmãos que costumam ter no máximo 1,20m, algumas características da nossa mãe acabam passando para nós, dizem que existem goblins filhos de dragões que tem mais de 3m de altura e são mais fortes que qualquer outro, mas eu duvido que algum um dia tenha conseguido comer um dragão.

Fui escravo por muito tempo, talvez não tenha sido tanto para um humano, mas nós vivemos metade do que vocês, então nossa noção de tempo é completamente diferente, um dia conseguimos escapar e eu, como muitos outros fui para cidade, só para vê-la queimando, tentei viver nos destroços de uma cidade se reconstruindo, só para descobrir que ela não me aceitava, pessoas tem pena de pequenos órfãos, mas ninguém tem pena de um goblin sujo. Acabei indo para os pequenos vilarejos, e lá roubava para sobreviver. Eu devo ter roubado algo importante de alguém, porque botaram minha cabeça a premio, claro que eles não sabiam que era eu, então procuravam o ladrão das residências do povoado de Texan, e um pequeno caçador de recompensas o achou, ele usava dois revólveres, uma das armas criadas pelos alquimistas e inventores Samuel Colt e Oliver Winchester, eles se parecem bestas de mão, porém sem os braços e com seis tiros em cada um, eles usam ar comprimido para impulsionar projeteis que se parecem com pontas de setas de bestas convencionas, quando me achou o caçador de recompensas achou que tinha achado a recompensa mais fácil da sua vida, mas vendo que eu estava desarmado, ele me disse que me daria uma chance, achando que uma criatura tão burra quanto eu jamais conseguiria usar uma arma tão complexa, ele me jogou um dos revólveres e antes que ele caísse no chão ele atirou em minha direção com o outro. Eu esquivei do tiro. Quando peguei a outra arma e apontei para ele, ele sentiu raiva, arrependimento, esperança e medo. O tiro perfurou sua testa. Com o corpo dele estendido no chão eu tive uma ótima ideia, peguei suas armas, os dois revólveres e uma faca de caça, o seu chapéu, que ficava grande demais em mim e cortei o poncho para fazer um para mim, juntei algumas das coisas que roubei e botei todas em uma sacola que ele levava em seu cavalo, e o troquei pela recompensa que existia pela minha cabeça. Isso resolveu dois dos meus problemas o fato de eu ter uma recompensa pela minha cabeça e o fato de eu não ter dinheiro algum. Dois coelhos com uma dentada só. Como a recompensa era baixa e a maioria dos pertences haviam sido devolvidos ninguém se incomodou em investigar nada, me deram o dinheiro e me mandaram ir embora.

Se eu ia viajar eu precisava de uma montaria, eu pensei em pegar o cavalo do defunto, mas ele não pareceu gostar de mim e, além disso, montar um cavalo com a minha altura seria impossível, pensei em um pônei, mas isso me pareceu como algo que um elfo baixinho faria, eu era um caçador de recompensas único e precisava de uma montaria única, foi quando eu vi três homens trazendo um javali amarrado em uma carroça e os parei e perguntei quanto queriam pelo javali, e assim eu consegui a montaria perfeita e fechei a piada. O goblin montado em um porco.

Foi depois disso que eu comecei minha vida como uma arma contratada nos pequenos vilarejos, não importava o trabalho, caçar escravos fugitivos, matar amantes, caçar criminosos, silenciar testemunhas, por um punhado de ouro eu o fazia, claro que o dinheiro não me dava tudo, eu ainda não podia entrar em nenhum bar de classe, ainda ouvia constantes piadas sobre o goblin caçador, a pequena barata suja dos pequenos vilarejos, felizmente maioria das piadas só eram proferidas uma vez, afinal os mortos não falam. Eu não lembro meu nome de nascença, que no caso de goblins consiste em um nome próprio o nome de todos os prováveis pais, o nome do líder do clã e do primeiro goblin que criou o clã, eu resolvi adotar o nome que me chamavam, barata suja, Bara o Sujo.

Lembra da piada do goblin e o porco? Pois é, eu não gosto dela e isso já me meteu em um sério problema, um dia em um dos piores bares dos pequenos vilarejos, até porque não posso entrar nos melhores, eu estava bebendo um Whiskey e fumando um palheiro, quando entra um figurão dono de um circo de aberrações que estava passando pela cidade, eu tinha passado pelo circo e o que se via era horrível, pessoas com deficiência, seres de raças exóticas, soldados mutilados pela guerra todos presos em pequenas jaulas como se fossem malditos animais. Enfim esse figurão estava lá no bar e por mim tudo bem, eu não gostava do cara, mas se ele não pisasse nos meus calos eu não pisava nos deles, mas ele não se controlou e ao me ver disse, “olhe lá, aquele é o goblin que monta no porco? Faria um ótimo palhaço no meu circo de aberrações.” Eu não gostei do que ouvi, mas nunca fui muito de falar por isso saquei minhas armas, mas dessa vez me descuidei havia dois brutamontes do meu lado, que provavelmente trabalhavam pro mercador de escravos que estava negociando com o figurão, antes que eu pudesse fazer algum estrago eles tiraram as armas da minha mão na porrada, e me jogaram um canto para me chutar até a morte, mas por minha sorte o figurão mandou eles pararem, chegou perto de mim e disse, “então o pequeno goblin acha que é homem? Você podia ter aceitado minha proposta e pelo menos teria ido pro meu circo com todos os dentes, agora você será glork o goblin banguela, crianças jogarão frutas podres em você, adultos rirão de você montando num porco como se fosse um cavaleiro real”. Ele não deveria ter passado tanto tempo falando, no meio das risadas eles se distraíram, e nesse tempo de distração eu pude pegar minha faca na bota, e pular no pescoço de um dos brutamontes o sangue ainda fluía do pescoço dele quando o seu colega veio para cima de mim, e com um único e lindo corte eu juntei seu umbigo ao saco, o sangue e a merda escorriam da ferida e eu joguei minha faca na cabeça do mercador de escravos, o figurão caiu de medo no chão, e balbuciava coisas sem sentido, quando eu cheguei perto dele e disse Bara o Sujo não é banguela, e sorri com os dentes que me restavam, e eu te mostrarei isso, eu comecei a mastigar o rosto dele, não com a intenção de mata-lo e sim deforma-lo para que ele vivesse como uma das aberrações do circo. Enquanto ele agonizava no chão eu fui pegar minhas armas só para descobrir que as duas pistolas haviam quebrado a única pista que eu tinha sobre quem poderia conserta-las estava na arma “Colt & Winchester”.

Foi difícil achar a oficina onde os dois trabalhavam, mas nada que alguém como eu que ganha vida achando pessoas tenha levado muito tempo, chegando lá, eu mostrei minhas armas e pedi para que eles as concertassem, eles se negaram. Aparentemente minhas armas eram de um lote que foi roubado deles, por isso elas andavam espalhadas pelos pequenos vilarejos, eu falei que faria qualquer coisa para que eles as arrumassem. Eles disseram que havia um preço, aparentemente dois copiadores estavam fazendo suas próprias versões das armas deles, Smith & Wesson e eles topavam arrumar minhas armas se eu acabasse com os dois e levasse toda a produção deles para eles, eu aceitei o trabalho com duas condições, a primeira é que eles me ensinassem como fazer a manutenção e consertos nas armas e a segunda é que eles me dessem uma arma para realizar a chacina. E eles me deram esse rifle que está aqui do meu lado.

O Goblin se levanta da cadeira onde estava e pega o rifle – Acredito que o senhor seja o Smith – Ele levanta a cabeça do defunto – Pelo bigode eu diria que sim – Ele bota o rifle nas costas e vai em direção a saída acendendo um palheiro – Eu realmente tenho que parar de falar com os mortos – Ele diz entre os dentes.

domingo, 17 de novembro de 2013

A Carpa

O papel em branco, a cabeça cheia, um cigarro queimando no cinzeiro, o café frio, o gelo derretendo. Qual é o motivo da falta de criatividade para se por tantas idéias no papel, a vida tem se tornado uma grande distração para os reais objetivos, andamos em círculos de conforto esperando algo grandioso acontecer, esperamos a melhora sem efetivamente busca-la, nadamos em um mar de pequenas alegrias esperando um amanhã melhor que nunca virá.

Vivemos um mundo de medo, acreditamos em milhares de olhos invisíveis que julgam cada uma de nossas ações e por isso perdemos a coragem de arriscar, lutamos pelo pão de cada dia não por causa da fome e sim pela antecipação dela. Tentamos prever tudo que a vida pode nos trazer, tetamos estar preparados para tudo e com isso esquecemos a grande emoção que uma surpresa nos traz.

Em mais uma epifania diária imaginamos a vida melhor, vemos uma grande cachoeira em nossa frente nos arrastando de volta para nascente, de volta para o nosso porto seguro, para o calor de caras familiares, mas esse calor queima, mas a subida é tão difícil que imaginamos que podemos aguentar o fogo queimando nossas aspirações.

Se todas elas queimarem será que continuaremos olhando para cima, imaginando como seriamos se lutássemos contra a maré, abandonássemos nossa segurança para enfim sentir a frescor de novos desafios. Será que a água longe da nascente matará nossa sede pelo novo, pela emoção, por um coração batendo em um ritmo conjunto à outro.